terça-feira, setembro 18, 2007

10ª Pirueta - Azul


Esperar, esperar,

acenar prum momento,

tentar achar a chave,

fisgar o tempo

e mergulhar.

Mergulhar sem tempo de respirar.

Aquela hora em que você decide

se vira pedra ou vira peixe,

se cria limo ou cria escamas.


E tudo ficou todo azul.

quarta-feira, setembro 12, 2007

9ª Pirueta - Alice




Reza a lenda que Alice,
Não aquela,
Outra bem mais festa
E louca e descortinada,
Um dia fez a cidade cambalear
De puro desejo, magia, medo,
E 12 dozes de Red Label sem gelo.



Alice, sim, a deusa, à beira do abismo.
Chutando o tempo prum bueiro,
O cigarro guardado dentro do seio esquerdo,
E todas as amigas longe, óculos escuros
Em plena noite, gays, garis e policiais,
Cascatas de risos falsos na praça.
Quem dera fosse Cincinnati no jornal nacional.
Ela passou por cima, mandou a merda e só sobreviveu
Porque era feita de sonho.
Sonho e solidão.



Depois os botecos do centro.
Os sobreviventes de outras eras,
Estudantes, mães e vadios,
A cidade aberta feito uma flor.
Acabou a bebida, Alice não alivia.
Arrasta minha carcaça pela cidade,
O carro quase sem gasolina,
Eu sem cocaína desde à tarde.
Já não penso em trepar com ela.
Alice quer que eu veja, que eu seja sincero.
Eu só quero que meus pés parem de doer,
Quero levá-la pra casa, quero Alice na minha cama.
Ela não vai deixar a noite assim tão fácil,
Minhas mãos estão dormentes,
Ela não pára.
Dispara em mim aquele olhar doente e diz:
-Você não viu Jules e Jim. Não me aborreça.



Reza a lenda que Alice,
Não essa,
Outra bem mais dentro
E moda e atualizada,
Um dia me fez pular
Do quinto andar do meu apartamento
Já não era sem tempo.
Deus, deus? Surpreenda-me
Ou desapareça antes do fim da queda.



Alice me espera na esquina.