domingo, dezembro 16, 2007

1ª Piruetas e mentiras - Voltas e velas (ou como aprendi a deixar o azul sempre do lado de dentro da mirada dos meus olhos)


mar aberto

outras voltas, outras velas,

olhos de abrir paisagem,

dias de comer estradas,

horas soltas sobre os livros de história.


pra que tanto verde se essa saudade só persiste?

eu desisto de esperar o resultado da lei.

deixo aguada minha vontade de abraços,

abraços deixados na plataforma G da rodoviária.

fico ilhado entre verbos, pronomes, milhares de páginas

em branco.

colorir é pestanejar traçando luz contra luz

um par.

terça-feira, setembro 18, 2007

10ª Pirueta - Azul


Esperar, esperar,

acenar prum momento,

tentar achar a chave,

fisgar o tempo

e mergulhar.

Mergulhar sem tempo de respirar.

Aquela hora em que você decide

se vira pedra ou vira peixe,

se cria limo ou cria escamas.


E tudo ficou todo azul.

quarta-feira, setembro 12, 2007

9ª Pirueta - Alice




Reza a lenda que Alice,
Não aquela,
Outra bem mais festa
E louca e descortinada,
Um dia fez a cidade cambalear
De puro desejo, magia, medo,
E 12 dozes de Red Label sem gelo.



Alice, sim, a deusa, à beira do abismo.
Chutando o tempo prum bueiro,
O cigarro guardado dentro do seio esquerdo,
E todas as amigas longe, óculos escuros
Em plena noite, gays, garis e policiais,
Cascatas de risos falsos na praça.
Quem dera fosse Cincinnati no jornal nacional.
Ela passou por cima, mandou a merda e só sobreviveu
Porque era feita de sonho.
Sonho e solidão.



Depois os botecos do centro.
Os sobreviventes de outras eras,
Estudantes, mães e vadios,
A cidade aberta feito uma flor.
Acabou a bebida, Alice não alivia.
Arrasta minha carcaça pela cidade,
O carro quase sem gasolina,
Eu sem cocaína desde à tarde.
Já não penso em trepar com ela.
Alice quer que eu veja, que eu seja sincero.
Eu só quero que meus pés parem de doer,
Quero levá-la pra casa, quero Alice na minha cama.
Ela não vai deixar a noite assim tão fácil,
Minhas mãos estão dormentes,
Ela não pára.
Dispara em mim aquele olhar doente e diz:
-Você não viu Jules e Jim. Não me aborreça.



Reza a lenda que Alice,
Não essa,
Outra bem mais dentro
E moda e atualizada,
Um dia me fez pular
Do quinto andar do meu apartamento
Já não era sem tempo.
Deus, deus? Surpreenda-me
Ou desapareça antes do fim da queda.



Alice me espera na esquina.

segunda-feira, julho 16, 2007

8ª Pirueta - Apenas




sabendo cada vez menos sobre esses espaços
guardados dentro da alma, desses que não tem recheio,
não tem tampa,nada, eu sigo esses dias segurando um choro
que não é choro.
segurando,sorrindo, os dentes serrados, acenando sem destino,
emprestando meu lugar aos outros, correndo feito locomotiva,
milhares de vagões são meus...

mas ontem, enquanto acenava pra você e talvez antes
quando dizia: Calma, tudo se resolve...
acho que menti.
Não pra você...

mas antes de mentir te beijei longamente, bem longe
dos homens, bem distante mesmo dessas cores que a cidade
insiste em colorir a madrugada...

Éramos de uma hora para outra
a luz que encheu os espaços da alma.
o som, beijos apaixonados, encontros com cheiro de terra
e sal.

16/07/07

terça-feira, junho 26, 2007

7ª Pirueta - Dança


Não passa,
Não deixa recado,
Não me lembro muito bem como
Ela era.
Era uma espera,
O verso rápido
Feito de passo e anca,
Pássaro e samba,
Verde, vermelho, azul.
Parceira de horas antes,
Pés descalços,
Brâmanas védicos,
Posse dos meus olhos
Naquela noite em que
Amanhecemos dançando.
Nós e a cidade inteira.

Adormecer,
Firmar os pés no sonho,
Na cor.
Abrir os olhos deixando a luz
Entrar e nutrir.

Eu, Arjuna.
Meu arco Gandiva dispara.
Enfrento os exércitos,
Venço a batalha.

Não canto por que
Não mereço.
Ouço o dia clarear enquanto ela
Dança.

Silêncio.
A dança é o timbre dela.

26/06/07

sexta-feira, abril 13, 2007

6ª Pirueta - Coisa-tudo


não tenho forças pra imaginar.

acendo um cigarro atrás do outro.

deixo sedimentar os olhares, os zumbidos

dessa música que tem sangue e saudade.

na verdade sou eu de sangue e saudade.

Superviva! será coisa-tudo e além de tudo

será.


13/04/07

quarta-feira, março 21, 2007

5ª Pirueta - Em todas as direções


Porque assombrar meu temperamento
Abrir feridas, alimentar desilusões?
Era mais fácil,
Bem mais fácil me deixar florir,
Ir além do fim do dia.


Porque se atrapalhar com as correntes
Que te amarram os pés, que te rangem os dentes?
Porque atravessar o jardim com o olhar doente?
Porque não depois?
Deixa o tempo acompanhar os acontecimentos.

Talvez reagir.
As mãos acenando prum lugar menos árido.
Escreva um recado num passo de tango
E veja o dia amanhecer
Em todas as direções.
Amanhecer como que por divertimento
Em todas as direções
Até esquecer de nós.

21/03/2007

segunda-feira, março 05, 2007

4ª Pirueta - Colorir, colorido


Remendo os dias
um a um
semanas de desprezo e linha
a linha que elimina desejos, coisas frias
o sentimento nas entrelinhas
a procurada,
a desejada,
falta de sossego.

não, não esqueça,
eu tenho medo.
e sinto frio.
eu tenho medo
fica aqui comigo.
eu tenho medo
e sinto frio.
fica aqui comigo.
não se esqueça.


Outros dias embrulhados pra presente,

palmas, muitas palmas.

Colados com os dedos e coloridos com giz.

mas, antes distantes, hoje são meu pão com manteiga.


Oremos.


Luiz Rocha

05/03/07